quarta-feira, 2 de maio de 2012

Contribuição psicopedagógica diante da Epistemologia Genética, Neuropsicologia e Psicanálise nas dificuldades de aprendizagem.

segunda-feira, 30 de abril de 2012 segunda-feira, 30 de abril de 2012 Contribuição psicopedagógica diante da Epistemologia Genética, Neuropsicologia e Psicanálise nas dificuldades de aprendizagem. Patricia Leuck Introdução Para o construtivismo, a aprendizagem é construção, ação e tomada de consciência da coordenação das ações. O aluno irá construir seu conhecimento através de uma história individual já percorrida, tendo uma estrutura, ou com base em condições prévias de todo o aprender, além de ser exposto ao conteúdo necessário para seu aprendizado Porém, dentro das instituições de ensino deparamo-nos com muitos casos de dificuldades de aprendizagem, que transformam a vida das crianças, de seus educadores e pais em um verdadeiro quebra-cabeças gigante, onde vamos procurando encaixar as peças.. No Brasil, cerca de 40% das crianças em séries iniciais de alfabetização apresentam dificuldades escolares, e, em países mais desenvolvidos, a porcentagem diminui 20% em relação ao número total de crianças também em séries iniciais . Sabe-se que se um aluno com dificuldades de aprendizagem se for bem conduzido pelos profissionais de saúde e educação, em conjunto com a família, poderá obter êxito nos resultados escolares . O professor necessita de um novo olhar em sua sala de aula, um olhar epistêmico, o olhar baseado no elo afetivo entre aluno e professor, para adquirir subsídios inerentes ao desenvolvimento de cada individuo de sua sala de aula. Cada ser único, com suas especificidades, suas dificuldades. Dificuldades estas que podem representar o sucesso ou fracasso escolar. Dificuldades estas, que podem estar aliadas aos transtornos de saúde que ocorreram numa fase de grande importância para o desenvolvimento cognitivo e emocional do ser humano. Acredita-se que as dificuldades de aprendizagem estejam intimamente relacionadas a história prévia de atraso na aquisição da linguagem. As dificuldades de linguagem referem-se a alterações no processo de desenvolvimento da expressão e recepção verbal e/ou escrita raciocínio lógico-matemático, podendo estar associadas a comprometimento da linguagem oral . . Por isso, a necessidade de identificação precoce dessas alterações no curso normal do desenvolvimento evita posteriores conseqüências educacionais e sociais desfavoráveis . Assim, neste capitulo abordaremos a importância da Epistemologia Genética, da Neuropsicologia e da Psicanálise no auxilio das dificuldades de aprendizagem nas instituições de ensino. Como fatores, genéticos, orgânicos e emocionais podem interferir no desenvolvimento dos indivíduos e, como essas áreas têm grande influência sobre o processo de ensino-aprendizagem; e que nos auxilia na compreensão para podermos explicarmos os fenômenos pedagógicos que encontramos no nosso dia-a-dia. Então, juntemos a Epistemologia genética que busca conhecer a origem ( gênese) do conhecimento, que faz uma abordagem do sujeito em seu processo de construção do conhecimento, com a Neuropsicologia, que ressalta a importância do estimulo para o corpo como um todo até chegarmos na Psicanálise que comprova que somos constituídos como sujeitos desejantes do saber, aliadas em conjunto com a psicopedagogia, para apresentarmos uma receita de sucesso nas instituições de ensino, buscando sempre a coerência, a paciência e tolerância na medida certa, para no final alcançarmos o sucesso escolar. Para tanto, precisamos, primeiramente buscar a compreensão da palavra dificuldades de aprendizagem, ou ainda de transtornos comportamentais, que apesar de não serem de aprendizagem, interferem diretamente no processo de aprendizagem . Este termo Dificuldades de aprendizagem é foco de diversos estudos e pesquisas que buscam compreender e explicar porque nossos alunos não aprendem. Entretanto, temos que ter clareza dos termos dificuldades e distúrbios de aprendizagem. Uma vez que distúrbios estão atrelados a disfunções e lesões neurológicas, que geram prejuízos e danos a aprendizagem. Já as dificuldades de aprendizagem geralmente estão relacionadas aos fatores metodológicos e internos do sujeito, como os aspectos emocionais e familiares. As dificuldades de aprendizagem, segundo Patto (2002), são referidas como um ou mais déficits significativos nos processos de aprendizagem essências que requerem técnicas de educação especial para sua remediação. Contribuição psicopedagógica Percebemos o mundo através do nosso cérebro, que entra em contato com ambiente por meio dos órgãos dos sentidos, que respondem aos diversos estímulos. Assim, destaquemos a grande importância da neuropsicologia dentro das escolas : se não estimularmos o corpo como um todo, poderemos fazer uma interpretação incorreta, interferindo na aprendizagem. Sara Paim (1989) afirma que: A origem de toda aprendizagem está nos esquemas de ação desdobrados mediante o corpo. Para a leitura e integração da experiência é fundamental a integridade anatômica e de funcionalismo dos òrgãos diretamente comprometidos com a manipulação do entorno, bem como os dispositivos que garantem sua coordenação no sistema nervoso central. ( p.29) Ela aponta ainda que tanto nas escolas como em clinicas, vemos as dificuldades de nossos alunos apenas como manifestações dos problemas afetivos, cognitivos ou emocionais, deixando de lado os aspectos orgânicos; o corpo e o organismo, pois quando há uma disfunção neurológica ou endocrinológico refletirá certamente na aprendizagem do individuo. Daí a importância do sistema nervoso central que Pain tanto menciona em suas obras: ele é o grande coordenador de todos os dispositivos corporais, bem como de seu funcionamento nas relações com o meio ambiente. Diversas alternativas nos possibilitam para direcionar nosso olhar psicopedagógico, trabalhando multidisciplinarmente, envolvendo estudos sobre o sistema nervoso central e suas diferentes manifestações: linguagem e raciocínio lógico. Buscamos nas neurociências a explicação e intervenção dos mecanismos neuronais que sustentam atos cognitivos, perceptivos, motores, sociais e emocionais. Kandel et al. ( 2000) ao conceituar a neuropsicologia esclarece que, além de fornecer informações sobre o comportamento, tendo como escape atividade cerebral produzida por milhões de células neurais, também trata das influências do ambiente incluindo-se nelas, as relações interpessoais. O que exatamente acontece no cérebro durante o aprendizado? As sinapses, pontos de troca de informação entre neurônios, mudam. As que foram usadas com sucesso são fortalecidas, enquanto as que levaram a erro ou não serviram para nada são enfraquecidas, algumas a ponto de atrofiarem e desaparecerem. Além disso, novas sinapses também podem aparecer - e um estudo recente mostra que isso pode acontecer mais rapidamente do que se imaginava. Dai vem a necessidade do estimulo, do exercício cerebral. Quanto mais estimularmos positivamente crianças com dificuldades de aprendizagem, maior e mais rápido será o retorno, porém quanto mais demorarmos a detectar estas dificuldades trabalha-las, a intervenção será mais demorada e deverá ser mais profunda. Vários psicanalistas buscam elos entre as relações fisiológicas com o psiquismo, dentre todos Monah Winograd escreveu um artigo sobre Freud publicado pela Revista Percurso, nº 28, 1/2002 com o titulo “ Freud, o corpo e o psiquismo”, o qual ela cita os pensamentos do pai do psiquismo: A conexão entre processos fisiológicos e processos psicológicos não é de causalidade mecãnica: são processos paralelos, concomitantes e dependentes reciprocamente uns dos outros. Podemos dizer que cada um é causa do outro e de si mesmo, cada ocorrência numa das séries produz efeitos nesta mesma série e na outra. Deste ponto de vista, é problemático qualquer discurso que pretenda reduzir uma série à outra, seja biologizando o sujeito, seja o psicologizando-o. A psicanálise está assentada neste paralelismo psicofisico de Freud que, provavelmente, é o seu pressuposto mais importante. Para compreendermos o funcionamento intelectual da criança, a neuropsicologia pode recorrer a diversos profissionais, tais como médicos, psicólogos, fonoaudiólogos,etc, promovendo uma intervenção terapêutica mais eficiente. Ao referirmo-nos em dificuldades de aprendizagem, Tiosso (1989,1993) assinala que reprovações escolares têm múltiplas etiologias. No processo ensino-aprendizagem, consideramos que uma avaliação global das funções psicológicas deve levar em conta todo mecanismo cerebral, nos seus níveis sucessivos de evolução. Assim, a avaliação neuropsicológica é a única forma possível de se avaliar uma determinada função. Aqui retomo a questão do olhar epistêmico do professor para com seu aluno, há inúmeras salas de aula por nosso país com no mínimo 1 ou duas crianças que reprovaram uma, duas, três vezes e continuam na fila de uma próxima reprovação. E o que fazer? Como fazer? Buscar subsídios para que essa criança possa alcançar os objetivos do letramento, buscar a auto estima desta criança, motiva-la são ações que sem dúvida contribuem para amenizar suas dificuldades. Quantos de nós não possuímos dificuldade de aprender determinada atividade, porém com o tempo fomos superando estas, sendo movidos por motivação, ou por alguma necessidade, mas mais cedo ou mais tarde aprendemos. Podemos conceituar o organismo fisiológico como sendo uma máquina cibernética, na qual vigora a norma do equilíbrio. Adaptação como equilíbrio. Trata-se do que Piaget ( 1936/1956) denomina de adaptação-estado: equilíbrio é adaptação estado. Necessitando transitar da vida para o comportamento. Em suma, o sujeito age. E agir significa assimilar o meio e se acomodar a ele. O ser humano nasce com a possibilidade de interagir com o meio, construir seus esquemas de ação, e, assim, interagir em sistemas cada vez mais abrangentes. Piaget conceitua a inteligência sendo uma adaptação, porque o sujeito deve sentir-se bem em seu meio. Esta adaptação é composta por três mecanismos: assimilação, que é o apreender novas experiências, que podem ser generalizadas e transpostas para outra ação. A acomodação, o sujeito é pressionado a mudar suas ações, levando-o á equilibração que é um processo ativo, onde o individuo reage a um problema, ou seja o sujeito abre-se ao mundo e encontra-se com ele. Paul J. Eslinger, em seus estudos neuropsicológicos demonstra sendo muitas diferenças entre as funções executivas da inteligência geral e da memória, o que se traduz como um cuidado conceitual, tanto no diagnótico quanto na intervenção psicopedagógica : As áreas do cérebro que possibilitam funções executivas são as últimas a amadurecer sendo que, progressivamente vão permitindo: dominar os conhecimentos para fatos, números, palavras e imagens. Tais funções são indispensáveis para nossas atividades e para as adaptações ao contexto que nos rodeia porque são responsáveis, em cada um de nós, pela consciência em relação ao nosso conhecimento e ao nosso desconhecimento. Contudo, o que se enfatiza é o ajuste ao mundo, porque é somente assim que as estruturas assimilativas do sujeito são alargadas, o que amplia sua inteligência do mundo bem como lhe propicia os elementos para a crítica de seus próprios limites: o sujeito tem uma finalidade, que é a de romper seus próprios limites e conquistar a compreensão do mundo. O sujeito crítico-hermenêutico: o sujeito que compreende o mundo e é critico de si. O sujeito age e se apropria do objeto de conhecimento, atribuindo-lhe significado próprio, de acordo com as suas possibilidades de entendimento até então desenvolvidos. Em sala de aula., Teberosky ( 1989) descreve situações de interação social de crianças em fase de alfabetização e, defende que estas elaboram suas ideias sobre a escrita pelo mecanismo da assimilação de informações do ambiente, sendo indispensável o auxilio do professor, que amplifica o acesso dos alunos a propriedades do sistema da escrita, algo de natureza inerentemente social. Para a psicanalise, o afeto é determinante para que aconteça a aprendizagem, pois é o gerador do desejo de saber, á necessidade de conhecermos melhor o aluno para nos relacionarmos melhor, a necessidade de conhecermos as fases do desenvolvimento afetivo do aluno para que nos relacionemos de acordo com as características e os desejos presentes em cada uma dessas fases, conhecermos seu meio, sua relação com a família, a gestação de sua mãe, se necessário sabermos o histórico de sua saúde, do parto. Informações estas que fazem a diferença no seu processo de aprendizagem, em uma avaliação diagnóstica. Aspectos estes, relacionados a objetos de estudo da psicanálise: constituição do sujeito, determinação das pulsões, dos desejos e do outro no processo de desenvolvimento, mecanismos de defesa, fases de desenvolvimento psicossexual. Quando os educadores se familiarizarem com as descobertas da psicanálise, será mais fácil se reconciliarem com certas fases do desenvolvimento infantil. Existem a fase oral ( do nascimento aos dois anos), a fase anal ( dos dois anos aos três anos), a fase fálica ( dos três anos aos sete anos), a fase de latência ( dos sete aos doze) e a fase genital (dos doze anos em diante). Para os educadores, torna-se necessário o conhecimento sobre estas fases, pois elas são determinantes para a personalidade do adulto. Nelas estão situadas as causas das neuroses infantis ou adultas, no caso de terem vivenciado traumas e recalcamentos em consequência de ações educativas excessivamente rígida e punitiva. Para Freud a vida adulta é decorrente do que aconteceu na infância. A psicanálise contribui para a educação deixando o conhecimento de que as questões emocionais/afetivas determinam ,comandam e interagem com o que sentimos, pensamos, aprendemos e agimos. Assim, se uma criança, estiver conturbada emocionalmente, seu potencial para aprender, agir e pensar não se explicita, ficando enclausurado em seu mundo. Na escola, se conhecida essas fases e valorizadas todas estes esquemas corporal – orgânico, ajudará o psicopedagogo e os professores a compreenderem que determinados comportamentos dos alunos são intrínsecos. Como exigir de uma criança com sérios comprometimentos na fala- transtornos de linguagem oral, que escreva corretamente, ou que domine bem a leitura. Será muito mais difícil para esta criança , uma vez que ela percebe, ouve o som de uma outra forma, e não conseguirá compreende-la, ou seja não irá transpor do mental para a escrita. Reclamar, punir, criticar ou insistir que aprendam com mais dedicação ou com práticas de ensino mais exigentes, não irá modificar seus comportamentos e suas dificuldades, mas poderá acarretar sentimentos contraditórios, inclusive de baixa auto- estima. A criança precisa sentir o desejo, a pulsão pelo aprender, para conhecer tudo o que a cerca, basta apenas oferecer condições para que isso ocorra. Observar as crianças quanto as suas necessidades e interesses e com elas dialogar sobre estratégias mais oportunas para a transmissão do conteúdo. É preciso ensinar os alunos a pensar, e é impossível aprender a pensar em um regime autoritário, punitivo ou que o julgue menos inteligente. Pensar é procurar por si próprio, é criticar livremente e demonstrar de forma autônoma. Considerações finais A capacidade que o ser humano têm em relação a aprendizagem é um fato evidente. Saber compreender os estágios cognitivos, o funcionamento fisiológico dos alunos torna-se prioritário no fazer psicopedagógico e educacional. Saber escutar, questionar a criança, perceber qual entendimento ela possui de sua realidade, dos valores morais, e da lógica, cria uma habilidade de avaliação rica, capaz de encaminhar o psicopedagogo ou os educadores para uma conclusão lógica sobre o potencial de aprendizagem da criança em questão. Possuímos um órgão riquíssimo, surpreendente ,que possuem aproximadamente 110 bilhões de neurônios com diferentes formatos e funções, com uma capacidade única e quase exclusiva de aprender. Cada neurônio tem potencial para fazer em torno de 60 mil sinapses,sendo que cada sinapse pode receber até 100 impulsos por segundo( RIESGO, 2006). Mesmo seu desenho parecendo igual a todo ser humano, cada Cérebro se difere, nenhum é igual ao outro. Isso para mim torna esta questão de desenvolvimento e aprendizagem humana uma dádiva, um mistério a ser desvendado. Compreender o processo de pensamento de cada individuo, investigar o seu nível operatório, para que sejam ajustados as propostas de ensino às suas condições reais de aprendizagem, instiga-lo e provocar-lhe o desequilíbrio necessário, possibilitará a reflexão sobre novas formas de pensar sobre sua realidade, possibilitando assim, o avanço de seu nível operatório ou de abstração. Os problemas de aprendizagem surgem por falta de possibilidade da criança aprender, onde não possui a curiosidade desperta, não possui autoria de pensamento, ou não consegue decodificar as funções da linguagem. Todo pensamento, todo comportamento humano remete-nos à sua estruturação inconsciente, como produção inteligente e, simultaneamente, como produção simbólica. A interpretação do discurso não pode ser feita sem levar em conta o nível da realidade, pois a realidade é a prova: a leitura inteligente dessa realidade que lhe dá sua coerência: a dimensão do desejo, que é sua aposta, sem levar em conta sua modalidade simbólica que lhe dará sua paixão. SARA PAIM (p.233) Bibliografia BALESTRA, M.Marta Maria. A Psicopedagogia em Piaget, Uma ponte para a educação da liberdade.Curitiba: IBPEX. 2001 ASSIS,A.L. Arbila. Influências da psicnálise na educação, uma pratica psicopedagógica. Curitiba: IBPEX. 2ª ed. 2007 MACHADO, N. Maria Ana, Diagnótico e tratamento dos problemas de aprendizagem . Porto Alegre: Artes Médicas. 1995. KANDEL,E, Schwartz, J. Fundamentos da Neurociência do comportamento. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2000. FERNANDEZ, Alicia. Inteligência Aprisionada, abordagem psicopedagógica clínica da crinaça e sua familia. Porto Alegre: Artes Médicas. 2ªedição. 1991 Dificuldades na aprendizagem e na escrita [Livro] / A. Furtado Valéria Queiroz. - petrópolis - RJ : Vozes, 2008. - Vol. 2ª. Essas crianças que não aprendem- diagnósticos e terapias cognitivas [Livro] / A. Bellano Jean Marie Dolle Denis. - Petrópolis- RJ : Vozes, 1996. - Vol. 7ª. (Sisto, 2001) Dificludades de aprendizagem no contexto psicopedagógico [Livro] / A. Sisto fermino Fernandez. - Petrópolis - RJ : Vozes, 2001. - Vol. 6ª. Patricia Leuck Introdução Para o construtivismo, a aprendizagem é construção, ação e tomada de consciência da coordenação das ações. O aluno irá construir seu conhecimento através de uma história individual já percorrida, tendo uma estrutura, ou com base em condições prévias de todo o aprender, além de ser exposto ao conteúdo necessário para seu aprendizado Porém, dentro das instituições de ensino deparamo-nos com muitos casos de dificuldades de aprendizagem, que transformam a vida das crianças, de seus educadores e pais em um verdadeiro quebra-cabeças gigante, onde vamos procurando encaixar as peças.. No Brasil, cerca de 40% das crianças em séries iniciais de alfabetização apresentam dificuldades escolares, e, em países mais desenvolvidos, a porcentagem diminui 20% em relação ao número total de crianças também em séries iniciais . Sabe-se que se um aluno com dificuldades de aprendizagem se for bem conduzido pelos profissionais de saúde e educação, em conjunto com a família, poderá obter êxito nos resultados escolares . O professor necessita de um novo olhar em sua sala de aula, um olhar epistêmico, o olhar baseado no elo afetivo entre aluno e professor, para adquirir subsídios inerentes ao desenvolvimento de cada individuo de sua sala de aula. Cada ser único, com suas especificidades, suas dificuldades. Dificuldades estas que podem representar o sucesso ou fracasso escolar. Dificuldades estas, que podem estar aliadas aos transtornos de saúde que ocorreram numa fase de grande importância para o desenvolvimento cognitivo e emocional do ser humano. Acredita-se que as dificuldades de aprendizagem estejam intimamente relacionadas a história prévia de atraso na aquisição da linguagem. As dificuldades de linguagem referem-se a alterações no processo de desenvolvimento da expressão e recepção verbal e/ou escrita raciocínio lógico-matemático, podendo estar associadas a comprometimento da linguagem oral . . Por isso, a necessidade de identificação precoce dessas alterações no curso normal do desenvolvimento evita posteriores conseqüências educacionais e sociais desfavoráveis . Assim, neste capitulo abordaremos a importância da Epistemologia Genética, da Neuropsicologia e da Psicanálise no auxilio das dificuldades de aprendizagem nas instituições de ensino. Como fatores, genéticos, orgânicos e emocionais podem interferir no desenvolvimento dos indivíduos e, como essas áreas têm grande influência sobre o processo de ensino-aprendizagem; e que nos auxilia na compreensão para podermos explicarmos os fenômenos pedagógicos que encontramos no nosso dia-a-dia. Então, juntemos a Epistemologia genética que busca conhecer a origem ( gênese) do conhecimento, que faz uma abordagem do sujeito em seu processo de construção do conhecimento, com a Neuropsicologia, que ressalta a importância do estimulo para o corpo como um todo até chegarmos na Psicanálise que comprova que somos constituídos como sujeitos desejantes do saber, aliadas em conjunto com a psicopedagogia, para apresentarmos uma receita de sucesso nas instituições de ensino, buscando sempre a coerência, a paciência e tolerância na medida certa, para no final alcançarmos o sucesso escolar. Para tanto, precisamos, primeiramente buscar a compreensão da palavra dificuldades de aprendizagem, ou ainda de transtornos comportamentais, que apesar de não serem de aprendizagem, interferem diretamente no processo de aprendizagem . Este termo Dificuldades de aprendizagem é foco de diversos estudos e pesquisas que buscam compreender e explicar porque nossos alunos não aprendem. Entretanto, temos que ter clareza dos termos dificuldades e distúrbios de aprendizagem. Uma vez que distúrbios estão atrelados a disfunções e lesões neurológicas, que geram prejuízos e danos a aprendizagem. Já as dificuldades de aprendizagem geralmente estão relacionadas aos fatores metodológicos e internos do sujeito, como os aspectos emocionais e familiares. As dificuldades de aprendizagem, segundo Patto (2002), são referidas como um ou mais déficits significativos nos processos de aprendizagem essências que requerem técnicas de educação especial para sua remediação. Contribuição psicopedagógica Percebemos o mundo através do nosso cérebro, que entra em contato com ambiente por meio dos órgãos dos sentidos, que respondem aos diversos estímulos. Assim, destaquemos a grande importância da neuropsicologia dentro das escolas : se não estimularmos o corpo como um todo, poderemos fazer uma interpretação incorreta, interferindo na aprendizagem. Sara Paim (1989) afirma que: A origem de toda aprendizagem está nos esquemas de ação desdobrados mediante o corpo. Para a leitura e integração da experiência é fundamental a integridade anatômica e de funcionalismo dos òrgãos diretamente comprometidos com a manipulação do entorno, bem como os dispositivos que garantem sua coordenação no sistema nervoso central. ( p.29) Ela aponta ainda que tanto nas escolas como em clinicas, vemos as dificuldades de nossos alunos apenas como manifestações dos problemas afetivos, cognitivos ou emocionais, deixando de lado os aspectos orgânicos; o corpo e o organismo, pois quando há uma disfunção neurológica ou endocrinológico refletirá certamente na aprendizagem do individuo. Daí a importância do sistema nervoso central que Pain tanto menciona em suas obras: ele é o grande coordenador de todos os dispositivos corporais, bem como de seu funcionamento nas relações com o meio ambiente. Diversas alternativas nos possibilitam para direcionar nosso olhar psicopedagógico, trabalhando multidisciplinarmente, envolvendo estudos sobre o sistema nervoso central e suas diferentes manifestações: linguagem e raciocínio lógico. Buscamos nas neurociências a explicação e intervenção dos mecanismos neuronais que sustentam atos cognitivos, perceptivos, motores, sociais e emocionais. Kandel et al. ( 2000) ao conceituar a neuropsicologia esclarece que, além de fornecer informações sobre o comportamento, tendo como escape atividade cerebral produzida por milhões de células neurais, também trata das influências do ambiente incluindo-se nelas, as relações interpessoais. O que exatamente acontece no cérebro durante o aprendizado? As sinapses, pontos de troca de informação entre neurônios, mudam. As que foram usadas com sucesso são fortalecidas, enquanto as que levaram a erro ou não serviram para nada são enfraquecidas, algumas a ponto de atrofiarem e desaparecerem. Além disso, novas sinapses também podem aparecer - e um estudo recente mostra que isso pode acontecer mais rapidamente do que se imaginava. Dai vem a necessidade do estimulo, do exercício cerebral. Quanto mais estimularmos positivamente crianças com dificuldades de aprendizagem, maior e mais rápido será o retorno, porém quanto mais demorarmos a detectar estas dificuldades trabalha-las, a intervenção será mais demorada e deverá ser mais profunda. Vários psicanalistas buscam elos entre as relações fisiológicas com o psiquismo, dentre todos Monah Winograd escreveu um artigo sobre Freud publicado pela Revista Percurso, nº 28, 1/2002 com o titulo “ Freud, o corpo e o psiquismo”, o qual ela cita os pensamentos do pai do psiquismo: A conexão entre processos fisiológicos e processos psicológicos não é de causalidade mecãnica: são processos paralelos, concomitantes e dependentes reciprocamente uns dos outros. Podemos dizer que cada um é causa do outro e de si mesmo, cada ocorrência numa das séries produz efeitos nesta mesma série e na outra. Deste ponto de vista, é problemático qualquer discurso que pretenda reduzir uma série à outra, seja biologizando o sujeito, seja o psicologizando-o. A psicanálise está assentada neste paralelismo psicofisico de Freud que, provavelmente, é o seu pressuposto mais importante. Para compreendermos o funcionamento intelectual da criança, a neuropsicologia pode recorrer a diversos profissionais, tais como médicos, psicólogos, fonoaudiólogos,etc, promovendo uma intervenção terapêutica mais eficiente. Ao referirmo-nos em dificuldades de aprendizagem, Tiosso (1989,1993) assinala que reprovações escolares têm múltiplas etiologias. No processo ensino-aprendizagem, consideramos que uma avaliação global das funções psicológicas deve levar em conta todo mecanismo cerebral, nos seus níveis sucessivos de evolução. Assim, a avaliação neuropsicológica é a única forma possível de se avaliar uma determinada função. Aqui retomo a questão do olhar epistêmico do professor para com seu aluno, há inúmeras salas de aula por nosso país com no mínimo 1 ou duas crianças que reprovaram uma, duas, três vezes e continuam na fila de uma próxima reprovação. E o que fazer? Como fazer? Buscar subsídios para que essa criança possa alcançar os objetivos do letramento, buscar a auto estima desta criança, motiva-la são ações que sem dúvida contribuem para amenizar suas dificuldades. Quantos de nós não possuímos dificuldade de aprender determinada atividade, porém com o tempo fomos superando estas, sendo movidos por motivação, ou por alguma necessidade, mas mais cedo ou mais tarde aprendemos. Podemos conceituar o organismo fisiológico como sendo uma máquina cibernética, na qual vigora a norma do equilíbrio. Adaptação como equilíbrio. Trata-se do que Piaget ( 1936/1956) denomina de adaptação-estado: equilíbrio é adaptação estado. Necessitando transitar da vida para o comportamento. Em suma, o sujeito age. E agir significa assimilar o meio e se acomodar a ele. O ser humano nasce com a possibilidade de interagir com o meio, construir seus esquemas de ação, e, assim, interagir em sistemas cada vez mais abrangentes. Piaget conceitua a inteligência sendo uma adaptação, porque o sujeito deve sentir-se bem em seu meio. Esta adaptação é composta por três mecanismos: assimilação, que é o apreender novas experiências, que podem ser generalizadas e transpostas para outra ação. A acomodação, o sujeito é pressionado a mudar suas ações, levando-o á equilibração que é um processo ativo, onde o individuo reage a um problema, ou seja o sujeito abre-se ao mundo e encontra-se com ele. Paul J. Eslinger, em seus estudos neuropsicológicos demonstra sendo muitas diferenças entre as funções executivas da inteligência geral e da memória, o que se traduz como um cuidado conceitual, tanto no diagnótico quanto na intervenção psicopedagógica : As áreas do cérebro que possibilitam funções executivas são as últimas a amadurecer sendo que, progressivamente vão permitindo: dominar os conhecimentos para fatos, números, palavras e imagens. Tais funções são indispensáveis para nossas atividades e para as adaptações ao contexto que nos rodeia porque são responsáveis, em cada um de nós, pela consciência em relação ao nosso conhecimento e ao nosso desconhecimento. Contudo, o que se enfatiza é o ajuste ao mundo, porque é somente assim que as estruturas assimilativas do sujeito são alargadas, o que amplia sua inteligência do mundo bem como lhe propicia os elementos para a crítica de seus próprios limites: o sujeito tem uma finalidade, que é a de romper seus próprios limites e conquistar a compreensão do mundo. O sujeito crítico-hermenêutico: o sujeito que compreende o mundo e é critico de si. O sujeito age e se apropria do objeto de conhecimento, atribuindo-lhe significado próprio, de acordo com as suas possibilidades de entendimento até então desenvolvidos. Em sala de aula., Teberosky ( 1989) descreve situações de interação social de crianças em fase de alfabetização e, defende que estas elaboram suas ideias sobre a escrita pelo mecanismo da assimilação de informações do ambiente, sendo indispensável o auxilio do professor, que amplifica o acesso dos alunos a propriedades do sistema da escrita, algo de natureza inerentemente social. Para a psicanalise, o afeto é determinante para que aconteça a aprendizagem, pois é o gerador do desejo de saber, á necessidade de conhecermos melhor o aluno para nos relacionarmos melhor, a necessidade de conhecermos as fases do desenvolvimento afetivo do aluno para que nos relacionemos de acordo com as características e os desejos presentes em cada uma dessas fases, conhecermos seu meio, sua relação com a família, a gestação de sua mãe, se necessário sabermos o histórico de sua saúde, do parto. Informações estas que fazem a diferença no seu processo de aprendizagem, em uma avaliação diagnóstica. Aspectos estes, relacionados a objetos de estudo da psicanálise: constituição do sujeito, determinação das pulsões, dos desejos e do outro no processo de desenvolvimento, mecanismos de defesa, fases de desenvolvimento psicossexual. Quando os educadores se familiarizarem com as descobertas da psicanálise, será mais fácil se reconciliarem com certas fases do desenvolvimento infantil. Existem a fase oral ( do nascimento aos dois anos), a fase anal ( dos dois anos aos três anos), a fase fálica ( dos três anos aos sete anos), a fase de latência ( dos sete aos doze) e a fase genital (dos doze anos em diante). Para os educadores, torna-se necessário o conhecimento sobre estas fases, pois elas são determinantes para a personalidade do adulto. Nelas estão situadas as causas das neuroses infantis ou adultas, no caso de terem vivenciado traumas e recalcamentos em consequência de ações educativas excessivamente rígida e punitiva. Para Freud a vida adulta é decorrente do que aconteceu na infância. A psicanálise contribui para a educação deixando o conhecimento de que as questões emocionais/afetivas determinam ,comandam e interagem com o que sentimos, pensamos, aprendemos e agimos. Assim, se uma criança, estiver conturbada emocionalmente, seu potencial para aprender, agir e pensar não se explicita, ficando enclausurado em seu mundo. Na escola, se conhecida essas fases e valorizadas todas estes esquemas corporal – orgânico, ajudará o psicopedagogo e os professores a compreenderem que determinados comportamentos dos alunos são intrínsecos. Como exigir de uma criança com sérios comprometimentos na fala- transtornos de linguagem oral, que escreva corretamente, ou que domine bem a leitura. Será muito mais difícil para esta criança , uma vez que ela percebe, ouve o som de uma outra forma, e não conseguirá compreende-la, ou seja não irá transpor do mental para a escrita. Reclamar, punir, criticar ou insistir que aprendam com mais dedicação ou com práticas de ensino mais exigentes, não irá modificar seus comportamentos e suas dificuldades, mas poderá acarretar sentimentos contraditórios, inclusive de baixa auto- estima. A criança precisa sentir o desejo, a pulsão pelo aprender, para conhecer tudo o que a cerca, basta apenas oferecer condições para que isso ocorra. Observar as crianças quanto as suas necessidades e interesses e com elas dialogar sobre estratégias mais oportunas para a transmissão do conteúdo. É preciso ensinar os alunos a pensar, e é impossível aprender a pensar em um regime autoritário, punitivo ou que o julgue menos inteligente. Pensar é procurar por si próprio, é criticar livremente e demonstrar de forma autônoma. Considerações finais A capacidade que o ser humano têm em relação a aprendizagem é um fato evidente. Saber compreender os estágios cognitivos, o funcionamento fisiológico dos alunos torna-se prioritário no fazer psicopedagógico e educacional. Saber escutar, questionar a criança, perceber qual entendimento ela possui de sua realidade, dos valores morais, e da lógica, cria uma habilidade de avaliação rica, capaz de encaminhar o psicopedagogo ou os educadores para uma conclusão lógica sobre o potencial de aprendizagem da criança em questão. Possuímos um órgão riquíssimo, surpreendente ,que possuem aproximadamente 110 bilhões de neurônios com diferentes formatos e funções, com uma capacidade única e quase exclusiva de aprender. Cada neurônio tem potencial para fazer em torno de 60 mil sinapses,sendo que cada sinapse pode receber até 100 impulsos por segundo( RIESGO, 2006). Mesmo seu desenho parecendo igual a todo ser humano, cada Cérebro se difere, nenhum é igual ao outro. Isso para mim torna esta questão de desenvolvimento e aprendizagem humana uma dádiva, um mistério a ser desvendado. Compreender o processo de pensamento de cada individuo, investigar o seu nível operatório, para que sejam ajustados as propostas de ensino às suas condições reais de aprendizagem, instiga-lo e provocar-lhe o desequilíbrio necessário, possibilitará a reflexão sobre novas formas de pensar sobre sua realidade, possibilitando assim, o avanço de seu nível operatório ou de abstração. Os problemas de aprendizagem surgem por falta de possibilidade da criança aprender, onde não possui a curiosidade desperta, não possui autoria de pensamento, ou não consegue decodificar as funções da linguagem. Todo pensamento, todo comportamento humano remete-nos à sua estruturação inconsciente, como produção inteligente e, simultaneamente, como produção simbólica. A interpretação do discurso não pode ser feita sem levar em conta o nível da realidade, pois a realidade é a prova: a leitura inteligente dessa realidade que lhe dá sua coerência: a dimensão do desejo, que é sua aposta, sem levar em conta sua modalidade simbólica que lhe dará sua paixão. SARA PAIM (p.233) Bibliografia BALESTRA, M.Marta Maria. A Psicopedagogia em Piaget, Uma ponte para a educação da liberdade.Curitiba: IBPEX. 2001 ASSIS,A.L. Arbila. Influências da psicnálise na educação, uma pratica psicopedagógica. Curitiba: IBPEX. 2ª ed. 2007 MACHADO, N. Maria Ana, Diagnótico e tratamento dos problemas de aprendizagem . Porto Alegre: Artes Médicas. 1995. KANDEL,E, Schwartz, J. Fundamentos da Neurociência do comportamento. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2000. FERNANDEZ, Alicia. Inteligência Aprisionada, abordagem psicopedagógica clínica da crinaça e sua familia. Porto Alegre: Artes Médicas. 2ªedição. 1991 Dificuldades na aprendizagem e na escrita [Livro] / A. Furtado Valéria Queiroz. - petrópolis - RJ : Vozes, 2008. - Vol. 2ª. Essas crianças que não aprendem- diagnósticos e terapias cognitivas [Livro] / A. Bellano Jean Marie Dolle Denis. - Petrópolis- RJ : Vozes, 1996. - Vol. 7ª. (Sisto, 2001) Dificludades de aprendizagem no contexto psicopedagógico [Livro] / A. Sisto fermino Fernandez. - Petrópolis - RJ : Vozes, 2001. - Vol. 6ª.